Edelweis Ritt dá dicas para que você não confunda texto e história


De telha em telha se constrói um telhado. Assim me senti no início da jornada de escrita. Telha, e não tijolo, porque o telhado me parece mais difícil de construir, servindo assim melhor como metáfora.

A decisão de escrever veio pronta, como provavelmente vem para quem gosta de ler: “Escreva o livro que você não achou no mercado para ler”. Parece fácil. Não é.

Como muitas pessoas, comecei em sites de escrita. Acho importante receber retorno de outras pessoas. Nesse primeiro momento, eu cometia o erro mais básico para um escritor: confundia meu texto com a história. E, assim, quando alguém não gostava, eu concluía que tinha que mudar a história, e isso fazia com que eu nunca convergisse para uma história com densidade.

<strong> O que eu aprendi com meu primeiro livro #1: de telha em telha </strong>
Gif: Giphy

O que quero dizer com confundir história com texto? Vou exemplificar, e para isso vou usar uma história que todos conhecem, a história da Chapeuzinho Vermelho, usando apenas o início da história para ficar simples. Vou escrever duas versões do primeiro momento em que a mãe de Chapeuzinho pede que ela leve algumas coisas à sua avó.

Chapeuzinho Vermelho, tradicional:

Era uma vez uma doce menininha que todos chamavam de Chapeuzinho Vermelho. Isso era porque ela sempre usava uma capa vermelha com um gorro que a sua avó havia lhe dado de presente.

Um dia, a mãe de Chapeuzinho Vermelho a chamou e disse:

Minha filha, você pode pegar esta cesta e levar para a sua vovó? Aí dentro tem pão, manteiga, bolo e algumas frutas. Ela está se sentindo doente e isto pode ajudá-la a se sentir melhor. Mas não saia do caminho e vá direto para a casa de sua avó, sem parar para falar com nenhum estranho, certo?

O texto é simples e direto com linguagem simples para que seja entendido em qualquer idade.

Eu poderia escrever o mesmo trecho em primeira pessoa:

Naquele dia ensolarado, mas levemente frio, encontrei minha mãe na cozinha embrulhando alguns pães e frutas em uma cesta. Havia grandes olheiras sob seus olhos maldormidos e ela se movia com dificuldade.

Minha filha, você pode pegar esta cesta e levar para a sua vovó?  ela disse cobrindo tudo com um pano de prato surrado . Sua avó está se sentindo doente e isto pode ajudá-la a se sentir melhor. Não desvie do caminho nem fale com estranhos.

Voltei ao quarto e retirei a capa vermelha que minha vó me dera do espaldar da cadeira de palha. Foi por eu usá-la tanto que tinha ganhado o apelido de Chapeuzinho vermelho.

Espero que essas duas versões já demonstrem de forma clara o meu argumento. Eu poderia escrever mil versões desse início, em linguagem poética, em primeira pessoa pelo ponto de vista da mãe e até da avó, que vai ser comida. Me parece um exercício genial; se tentar, me envie, pois vou adorar ler.

<strong> O que eu aprendi com meu primeiro livro #1: de telha em telha </strong>
Gif: Giphy

Desde que entendi a diferença entre texto e história, minha escrita mudou. Para mim pessoalmente funciona pensar na história antes de tudo, mas há quem o faça durante a escrita. Não funciona para mim.

Penso na história diariamente e vou acrescentando os elementos até ter um plot espesso, crível. Só depois me sento para escrever, e, acreditem, às vezes escrevo diversas vezes o mesmo capítulo mantendo a história, mas alterando o texto, que hoje sei ser maleável como massinha de modelar.

Torço para que este artigo contribua para que você não confunda o texto com a história.

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