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Ane Forcato, autora da série Tokio!, mostra a importância de gerar empatia no leitor e como fazê-lo


Hoje inauguro esta coluna com o objetivo de viabilizar uma conversa de escritor para escritor. Tomara que seja um bate-papo bacana, afinal vou falar sobre uma de minhas maiores fontes de inspiração! O que posso falar logo de cara é que desde pequena eu já experimentava suas altas doses de emoção…

Assistir a um anime em prantos faz parte, mas que emoção é essa?

<strong> O que os animes me ensinaram sobre escrita #1: o poder da empatia </strong>

Beleza plástica, trilhas sonoras, elaboração refinada dos universos, tudo isso e mais um pouco vêm como mero suporte sensorial. E então vem a cereja do bolo: personagens e conflitos que irão se aprofundar ao longo da trama, fazendo com que você navegue do amor ao ódio, do ódio ao amor, da piedade à sincera amizade. E você não se sentirá indiferente.

Percebe a relevância disso? A empatia está diretamente ligada aos personagens, e, ainda que estejam em um universo protagonizado por criaturas diversas (não humanas), para se envolver com seus dilemas o leitor terá que se colocar em seu lugar. Essa é a chave que o bom anime sabe destravar.

<strong> O que os animes me ensinaram sobre escrita #1: o poder da empatia </strong>

Por mais que nós, escritores, usemos de criatividade na condução de uma narrativa, a empatia é a chave para que o leitor seja seduzido. Acima da riqueza do cenário, no fim é sempre o fator humano que conta. Por isso uma história de batalhas heroicas pode funcionar tão bem quanto um conto introspectivo que se passa somente dentro da mente de alguém!

Do anime para a escrita, esse fator deve estar presente visando a conexão com o ser humano que desfruta da obra, certo? Colocar-se no lugar do outro gera a cumplicidade necessária para que o leitor devore as páginas em todos os gêneros literários.

É um desafio e tanto, de qualquer forma, inclusive no que se refere ao ritmo: a empatia não é gerada de uma hora para a outra. Na próxima vez que assistir a um anime, lembre-se de observar as camadas, pois é por meio delas que, muitas vezes, a empatia é explorada pelo autor, principalmente no que se refere ao seu crescimento. Não é no primeiro episódio que você irá desvendar o protagonista e a cair de amores por ele, mas observe suas mudanças ao longo da narrativa, conforme os conflitos se apresentam e suas decisões o conduzem pelos eventos — ou seja, vá com calma na construção dessa empatia. Observe como suas ações atuais são justificadas pelos fatos do passado apresentados de forma despretensiosa; os melhores são aqueles que mudam de lado, são levados a agir de forma inesperada, fazendo crescer sua personalidade — o leitor pode não sentir empatia pelo personagem hoje, mas isso pode acontecer se ele entender quem o personagem foi, o que o tornou quem é.

<strong> O que os animes me ensinaram sobre escrita #1: o poder da empatia </strong>

No entanto, antes de saber de seus dilemas, é necessário obter pistas claras da aparência dos personagens, pois isso também gera empatia. É importante o leitor saber como os visualizar, para adiante não cair na armadilha de ter idealizado alguém diferente e sofrer um distanciamento, o que certamente dificulta no processo de criação de empatia no leitor. Assim como na vida, a aparência de alguém é o nosso primeiro contato e, além de ilustrar faixa etária, grupo étnico etc., já define alguns traços de personalidade. Por exemplo, o código do vestuário, a postura. Se o leitor logo descobre que aquele personagem é baixinho e usa roupas de couro, suas dificuldades ou vantagens não precisarão ser muito explicadas para sua ação fazer sentido na sequência. Ler é movimento, palavras são estáticas apenas na página do livro. Na mente se percorre lugares que o texto indica, e além.

Essa introdução à aparência do personagem é sempre dramática no anime. O personagem chega com um vento rodopiando seus trajes e cabelos, a imagem vem em uma tomada triunfal de baixo para cima, enquadrando por último o seu rosto permeado de intenções. Depois, ok, ele será mocinho ou bandido, mas a chegada… ah, é para fisgar o olhar e não passar despercebido! E a empatia começa a ser criada assim, sendo melhor explorada adiante.

Mas agora eu quero saber de você: quando escreve tem em mente essa estratégia de criar empatia por meio dos seus personagens e seus conflitos, da apresentação à construção? Se não, me conte se este artigo vai mudar as coisas para você.  

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